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ENTREVISTA COM O B.BOY NEGUIN

ENTREVISTA COM O B.BOY NEGUIN

                               Entrevista com o B.boy Neguin

Por Larissa Tietjen e Victor Bini de Bona

A cultura Hip Hop invadiu o Campus I da Universidade do Vale do Itajaí há pouco menos de um ano, através da Dança de Rua — uma das modalidades do projeto de Extensão e Cultura. Com o intuito de aperfeiçoar as coreografias e agregar conhecimento aos dançarinos, o B-Boy Fabiano Carvalho Lopes, mais conhecido pelo apelido Neguin, foi convidado pela professora e pesquisadora das danças que compõem o estilo Hip Hop, Suzana Christina, para participar de alguns ensaios e prestigiar os eventos que o Grupo de Dança Univali participa.

Há cinco anos envolvido na área, Neguin é um legítimo representante da Break Dance. Natural de Cascavel, no Paraná, ele tem apenas 19 anos e já percorreu o mundo competindo em países como Peru, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai, além da participação no mundial R-16 cediado em Seul, na Coréia do Sul, em junho deste ano — das equipes presentes, a Tsunami Allstars,  crew brasileira, alcançou o terceiro lugar.

Em uma das suas passagens pela Univali, Neguin bateu um papo com a nossa equipe e contou um pouco da sua carreira, seus projetos e como ele vê o trabalho realizado pelos dançarinos da Universidade.

Como foi o início da sua carreira na dança, os primeiros contatos?
O primeiro contato foi baseado na internet, porque eu já praticava capoeira desde pequeno e tinha certa facilidade pra executar os movimentos que também são da dança, ritmos. O contato era difícil com o Hip Hop em si no Brasil, a modalidade que eu faço, o Break, não estava muito difundida. Então começamos assistindo os vídeos e tentando imitar. Logo mais a gente foi se aprofundando e conhecendo, fazendo cursos até fora do país... Hoje no Brasil já é forte o movimento, então você pode estudar aqui mesmo.

Quais são as Crews (grupos) que você participa aqui no país?
A minha profissão é a dança break, o b-boy em si tem várias crews. Eu participo da Ubi Zulu Kingz, uma agência que serve para trabalhos como comerciais de TV; Tem a crew pra competições mundiais, a Tsunami Allstars, e algumas que são para campeonatos nacionais. A gente tem os grupos, mas trabalhamos de forma individual.

É possível viver da dança, depois de cinco anos?
Dá pra viver porque é um trabalho profissional. Então começa pelo baixo, como todo mundo que dá suas aulas normais. Mas com o desempenho e o desenvolvimento de cada b-boy, podem-se fazer e participar de grandes eventos. Trabalhar por isso e correr atrás.

Você tem patrocínio?
As minhas crews são patrocinadas por algumas marcas e empresas do estado de São Paulo. Mas meu patrocínio particular é a Urban Soul.

Você ganha dinheiro para viajar e participar dos eventos através das aulas e cursos que você ministra no Brasil?
Exato. Exemplo disso amanhã (dia 18/08) vai ter um campeonato em Balneário Camboriú no qual eu vou ser jurado. Voltando pra minha cidade já tem um workshop, na outra semana haverá outro em São Paulo e depois em Campinas... assim vai. A agenda está sempre lotada pra esse tipo de evento.

E o mundial que aconteceu na Coréia, foi a primeira vez que você participou?
Sim, competição mundial em grupo pra mim foi a primeira vez. Nós fomos com oito competidores e conseguimos premiação nas competições show, show case e batalhas. Mas eu já havia competido fora do país.

Qual é o nível das competições lá fora?
O nível é bem alto porque a gente tem certa dificuldade no Brasil, além de praticar a dança, muitos precisam trabalhar. Às vezes, como você perguntou antes ‘dá pra viver da dança?’, até dá, mas quando aperta a gente dá um jeitinho, bem típico do nosso país. Lá não, é mais desenvolvido. O dançarino lá, é como um jogador de futebol, recebe só pra dançar.

Como funciona o julgamento dos campeonatos?
Normalmente são competições que se chamam batalhas, que é um versus o outro. São duas entradas pra cada um, ou três dependendo da competição, e quem executar melhor a origem da dança que são top-rocks, freezes, power-moves, footworks — que tem toda uma fundamentação — no ritmo da música é o vencedor.

Quando o b-boy entra na batalha, quais são os movimentos básicos que eles julgam?
Então, os básicos são estes que te falei. O top-rock é uma preparação mais em cima, uma execução de passos no ritmo da música. Em seguida o footwork, ele é um trabalho com os pés no chão. Você está com as mãos apoiadas no chão e trabalhando com as pernas. E daí vem a finalização que é um freeze, o bloqueio de todo o movimento. Você está no ritmo e você freeza para mostrar seu estilo, pra mostrar que foi uma coisa limpa. E o power-move que são os saltos, movimentos de alto grau de dificuldade, um exemplo é o giro de cabeça, essas coisas. Então são quatro fundamentos que a dança break tem.

Existe algum ranking de b-boys no Brasil, como são definidos os melhores do país?
No Brasil os melhores estão nessa crew, a Tsunami Allstars, que é uma seleção brasileira de oito competidores. A gente escolheu oito. As pessoas mais velhas e que entendem mais da dança estão nessa seleção.

Você mesmo cria as coreografias ou tem alguém dando dicas, alguma referência?
Esse termo b-boy vem do break-boy, que é o garoto que dança no break-beat da música. Então isso é uma coisa bem individual, cada um tem seu estilo. Quem coreografa os movimentos somos nós mesmos, os b-boys.

Trabalha com improviso, mas nas competições vocês já vão com as seqüências combinadas?
Sim, cada um tem seu estilo e seus movimentos, mas pra competição em grupos a gente faz coreografias.

Como funciona o treinamento e qual a freqüência deles? Afinal os b-boys são de cidades diferentes.
Eu treino todo dia com o grupo que eu tenho em Cascavel. Essa crew que foi pra Coréia todos os competidores são de São Paulo, eu sou o único que é do Paraná. Quando eu tenho competições fora e viagens, me desloco pra São Paulo um ou dois meses antes, pra poder treinar com eles, se entrosar e ir pros campeonatos.

Qual é o próximo evento em especial que vocês estão se preparando?
Vai ter a Battle of the year, uma competição de show case que é na Alemanha e International Break Dance Event, que é na Holanda. Tem esses dois que são agora em setembro e outubro. Nós estamos analisando a possibilidade de ir competir lá.

Sobre o Grupo de Dança Univali, de Itajaí, como que você analisa a linguagem trabalhada, com relação aos outros grupos que você assiste no Brasil?
É uma coisa diferente o trabalho que estão desenvolvendo aqui, não é baseado apenas numa dança. Vi que têm entrosamento devido as outras modalidades que o grupo todo também  pratica. Há pesquisa de músicas e estudo das danças. Eu acho legal, o diferencial é isso. Milhões de grupos fazem a mesma coisa, muda só a música, são os mesmos passos e as mesmas idéias. Então pelo que eu percebi o grupo não está muito preocupado com isso, com festivais e competições. Estão dançando pra desenvolver um trabalho próprio.

Se não fosse a dança o que você estaria fazendo hoje?
Eu estaria em alguma coisa que envolve adrenalina. Sou movido a isso. Eu já praticava lutas, se eu não tivesse conhecido a dança eu estaria nas lutas. Também sou grafiteiro, a arte também me chama atenção. Estaria em algumas dessas áreas.