Red Bull BC One - A maior "battle" mundial de B-Boys
O prazer da música é essencialmente uma experiência pessoal. A música contribui para muitas das cerimónias que marcam acontecimentos importantes da vida das pessoas ? casamentos, aniversários, festas, danças, cerimónias de estado, coroações ou paradas politicas com as suas fanfarras e hinos. A dança dá-nos um exemplo vívido da relação recíproca em que a música influencia, e é influenciada pelo, comportamento social.
Se olharmos para a chamada morris dancing de Inglaterra, um tipo de dança popular que remonta ao Séc.XV, vemos duas equipas de dançarinos onde cada membro tem um papel específico, e a performance necessita da contribuição de todos. Ao mesmo tempo, o reportório de cada equipa depende das capacidades individuais de cada um dos membros, sendo que a actividade do grupo reflecte processos de conformidade à expressão do indivíduo e de inovação técnica.
Uma função importante da dança é a de facilitar e regular encontros inter-étnicos e inter-géneros. A grande moda da kizomba que se observa em Portugal personifica estas dinâmicas mas todas as danças de par cumprem-se como um instrumento de esbater distâncias pessoais e abreviar o contacto visual e físico. Estes processos decorrem em público, são estruturados, têm normas de conduta e podem ser vistos por outros membros da comunidade. A dança é uma actividade social específica; é governada por regras que se têm desenvolvido com o tempo e ajustado aos mais diversos contextos (desde as danças nos powwow dos ÿndios da América do Norte que são cerimónias para as tribos manterem relações solidárias entre si até às danças místicas sufi de um ramo gnóstico do Islamismo) e a conformidade às normas é essencial para que a actividade de dança continue. Esta é uma entidade dinâmica, que se acomoda sempre que os executantes precisam que a dança cumpra uma função. O breakdance nasceu assim.
Em 1969 Afrika Bambaataa ? um dos pais do Hip Hop - formou os Zulu Kings, um grupo de dança do Bronx em Nova Iorque. Actuavam por toda a cidade inspirados no tema "Get On The Good Foot?, de James Brown, que inspirou os primeiros passos de proto-breakdance. Bambaata percebeu o potencial social da dança acrobática e quando os Zulu Kings foram desafiados por um gang rival para uma luta, o líder sugeriu que os dois grupos se digladiassem não com armas, mas através da dança. Esta cumpria, mais uma vez, a sua função social e de contacto intercultural ? nascia o breakdancing, um termo inventado pelo próprio Afrika Bambaata, e uma relação umbilical com o Hip Hop.
Daí em diante o breakdancing desenvolveu-se segundo a lógica da battle, onde dois grupos (ou indivíduos, os B-boys) competem, denunciando novos truques, exibindo capacidades singulares, afirmando a sua identidade. O breakdancing tem acomodado usos que se vão multiplicando de acordo com o seu contexto. Em todo o mundo existem competições, formais ou informais, mas só uma consegue ser o maior evento de B-boying one-to-one do mundo: o Red Bull BC One.
A realizar na ÿfrica do Sul em 2007, o evento juntará dezasseis dos melhores B-boys do mundo num frente-a-frente (head-to-head) competitivo que resume o espírito do breakdancing.
Inicialmente organizada em Biel, Suíça, em 2004, e seguida dos eventos na Alemanha (2005) e Brasil (2006), o Red Bull BC One desloca-se agora até às costas africanas, onde os melhores B-boys do mundo competirão no evento principal a ter lugar a 22 de Setembro no Soweto, Joanesburgo, ÿfrica do Sul.
Conhecida como uma das nações cultural e étnicamente mais ricas do mundo, a ÿfrica do Sul orgulha-se da sua diversidade. Este ano, o seu 13º de verdadeira independência, assinala também a celebração dos 25 anos do Hip Hop no país. Introduzido no início dos anos 80, o Hip Hop (tal como o Kwaito) desenvolveu-se enquanto forma de expressão alternativa, fornecendo à juventude sul-africana um ponto para canalizar a sua criatividade.
Neste cenário em que as artes da música e a expressão corporal se geminam na função social do breakdance, a escolha da ÿfrica do Sul é simbólica para o espírito dialogante deste dança. Neste mesmo país, há poucas semanas um dos maiores incentivadores do Apartheid foi absolvido de acusações de crimes e mortes racistas. O juiz que sentenciou o caso disse: ?Num país em reconciliação não há lugar para a vingança?.
O paralelismo é fortíssimo, olhando para trás, Afrika Bambaata teve a mesma visão de amistosidade através do breakdance que desde aí não mais deixou de ser um meio criativo de gerar afectos e emoções positivas através da dança.
A animada cidade de Joanesburgo é uma escolha bem adequada para uma experiência desta natureza; B-boys e amantes do Hip Hop preparam-se para descer à cidade para testemunhar um dos mais dinâmicos espectáculos de breakdancing do mundo.
Os 16 B-boys que irão competir a 22 de Setembro estão anunciados no site: www.redbullbcone.com.